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A TÉCNICA

Onde nasce as bailarinas do brega-funk pernambucano?

Com a legitimação do estilo de dança no brega-funk, as coreografias viraram marca para o ritmo musical. Bailarinas como Dani Costa, Wanessa Loureiro, Tayná Bento, Vanessa Santos e Anna Lima, ganharam a admiração de muitas pessoas pelo estilo de dança. Mas, apesar do sucesso, muitos não sabem onde nascem as dançarinas de brega-funk e também desconhece a origem de suas coreografias. Pensando nisso, embarcamos na missão de experienciar o ensaio da Império Swing, um grupo de dança nativo de Peixinhos, por onde muitas dançarinas passaram antes do sucesso.


Indo ao encontro da Império Swing

Quinta-feira, 8 de novembro. O dia já havia começado com movimentação e muito sol na cabeça. Já tínhamos visitado a casa de Anna Lima, dançarina de MC Menor do Recife, em Jardim São Paulo. Por volta das 14h, já tínhamos seguido rumos diferentes: ele para o trabalho e eu para os compromissos pessoais. Quando cheguei em casa, por volta das 16h, comecei a me organizar para ir ao ensaio a noite. Marcamos com o pessoal da Império Swing às 19h30. Passei pelo dilema de sempre de “com que roupa eu vou?”, mas não me demorei. Estava mais preocupada em como chegar ao local, afinal, seria a noite, num lugar que me era desconhecido. “Mas, tudo bem. Pedro vai tá comigo”, pensei.


Por volta das 17h30, enviei uma mensagem pra ele: “o ensaio começa às 20h, mas a gente pode chegar de 19h30”. Ele me respondeu se queixando de fome e dizendo que quanto ao horário estava tudo bem. Fiquei preocupada, afinal, no relógio faltava pouco para a hora de jantar e ele sequer havia almoçado. Abandonei o celular na minha cama e fui me arrumar. Verifiquei minha mochila: celular e carregador portátil, então, tudo ok. Comi algo rápido e, antes que mãinha começasse o interrogatório, eu resumi todas as informações. “Tô indo assistir um ensaio de dança com Pedro, em Olinda. Não vou demorar”, disse enquanto saía de casa. Caminhei até o ponto de ônibus e peguei o primeiro que passou. Perto de desembarcar, Pedro me ligou perguntando onde eu estava e queria saber se dava tempo dele comer alguma coisa. Segurei o riso e falei: “cheguei no local que combinamos”.


A saída foi esperar ele vir do Recife Antigo, onde estava, para o Derby, ponto de encontro. Enquanto isso, eu ficava olhando para lá e para cá, pensando na vida, no trabalho… Aproveitei para mandar mensagem para Caio Alves, um dos professores de dança da Império que ficou de nos receber no local. Disse que já estava a caminho e que chegando lá ligaria para ele. Um problema: a mensagem foi enviada, mas não recebida. Bom, sabíamos que ônibus pegar, onde descer e para onde queríamos ir, o restante dava para desenrolar. Depois de uns 20 minutos, não aguentei esperar em pé no mesmo lugar e avisei para Pedro que iria aguardar na parada onde iríamos pegar o TI Xambá/Joana Bezerra. Assim que me acomodei no banco da parada, Ele apareceu na minha frente segurando uma sacola da Subway. Eu ri e ele também. No mesmo segundo, ele falou “amiga, lá vem o ônibus! Lotado… A gente espera o próximo, tá?” Apesar de estar preocupada com a hora, concordei. Até porque imaginei ele tentando comer em um ônibus que mal dava para levantar os braços. Esperamos o segundo. Estava cheio, mas só lotou depois que a gente estava dentro e tínhamos nos acomodado numa brecha, já que todas as cadeiras estavam ocupadas. Pedro foi comendo no caminho: com uma mão se apoiava, com a outra segurava o sanduíche. “Que situação”, pensei.


Neste dia, o mapa do Google não me ajudou muito a chegar no local desejado. O ponto de referência dado pelo professor foi a Feira de Peixinhos. Segundo ele, poderíamos descer no local, uma parada depois. Pouco antes de descer, Pedro pediu informação a uma senhora que estava entre eu e ele no ônibus e ela ficou de avisar quando fosse nossa hora de descer. Ao chegar no local, sofri o primeiro estranhamento. A avenida era mal iluminada e a gente não fazia ideia para que lado iríamos. Não pensei duas vezes: “Bora ali naquela farmácia. Lá a gente entra em contato com Caio”. Atravessamos a pista e entramos no estabelecimento tão rápido que nem reparei o nome na fachada. Mais um problema: liguei para o professor e o celular dele só dava desligado. Então, pedimos informação a um farmacêutico que, por sorte, mora na região. “Com licença, o senhor sabe onde fica o Boi Menino?”, perguntei meio sem jeito, pois o funcionário estava falando ao telefone (no viva-voz) com o filho pequeno, que por coincidência chamava-se Pedro. Muito sucinto nas palavras, o senhor explicou e a gente ficou sem entender direito, então, ele se dirigiu até a frente da farmácia para nos mostrar melhor o caminho. Agradecidos, seguimos o percurso indicado pelo trabalhador. Receosos de não estar no caminho certo, a gente ficava se perguntando “será que é nessa rua mesmo?” Mas, continuamos andando até que avistamos duas garotas com roupas de academia mais a frente da gente e, então, Pedro incentivou: “Pergunta pra elas, amiga”. Cuidei em acelerar os passos. Alcancei as meninas e pedi a informação: “Vocês sabem dizer onde fica o Boi Menino?” Uma delas disse: “sim, fica nessa mesma rua. Pode ir direto”, respondeu educadamente. Seguimos.


O palco do ensaio: Associação Cultural Boi Menino

Finalmente, encontramos o local. Um muro alto e branco, no lado oposto a Delegacia de Polícia de Peixinhos, havia escrito em azul escuro: Associação Cultural Boi Menino. Fiquei receosa quando vi que a aula já estava acontecendo. “A gente vai chegar chamando atenção”, comentei com Pedro. Em frente a associação, havia aproximadamente uns dez garotos assistindo o ensaio do pessoal. Eles falavam entre si e gritavam dando em cima das meninas que estavam dançando. Tomamos coragem e andamos até a grade. Um homem se aproximou e atenciosamente nos ouviu. “A gente combinou com Caio de assistir o ensaio hoje”. Então, ele respondeu que Caio não tinha chegado ainda, mas nos convidou para entrar e esperar. Gratos, aceitamos. Chamamos a atenção do povo. Talvez pelos rostos desconhecidos ou pelas vestes que destoava um pouco do restante das pessoas. Cropped preto, calça jeans, melissa do Paraguai e minha velha mochila. Pedro trajava camisa de manga azul, calça jeans, sapato fechado e uma mochila bem maior que a minha. Estávamos bem basiquinhos, na minha opinião. Como quem não quer nada, sentamos no meio-fio que tinha próximo a entrada, por trás de quem estava ensaiando e foi quando comecei a observar o ambiente.


A agitação, o modo das pessoas se vestirem e o clima de aula prática movida pelo afeto me trouxe uma forte lembrança de infância. Estudei minha juventude toda na Escola Municipal da Iputinga, onde funcionava o projeto Escola Aberta do qual fiz parte durante alguns anos. Todos os sábados havia aulas práticas voltadas para o meio artístico. Lá tinha de tudo: percussão, música, dança… Foi gostoso sentir a nostalgia.

A aula da Império aconteceu no estacionamento do local. Havia uma quantidade considerável de pessoas para tamanho do ambiente, alguns carros estacionados à esquerda o tornava menor. Enquanto eu observava, Pedro murmurava algumas coisas. “Amiga, eu tô morto de vergonha” e eu fiquei sem entender direito porque mais tranquila do que eu naquele momento, só eu mesma. “Amiga, vamo começar a filmar, enquanto Caio não chega”, disse ele enquanto levantava. Tudo bem. Levantei e comecei a me organizar junto com ele. Como o celular dele estava com a memória comprometida, eu precisava fazer filmagens bacanas. Não sabia bem como poderia garantir boas imagens com o meu Moto G5, a câmera é péssima a noite. Bom, “é o que temos”, pensei.


Ao iniciar as filmagens, foi instantâneo, o pessoal começou a “dar close” para a câmera. Quando percebi que as pessoas estavam gostando de serem gravadas, fiquei mais tranquila, pois achava que o flash poderia incomodar ou intimidar quem dançava. O professor e fundador do grupo de dança, Rhanderson Costa, explicava detalhadamente os passos para os alunos e depois dava o play no som para praticá-los no ritmo da música. Isso aconteceu no decorrer de todo ensaio. Enquanto passava os detalhes, ele usava como marcação algumas palavras: “pro lado, pro meio; pula; embaixo; coloca; fica; girou; cabelo voando ao vento”, ou seja, para cada palavra um passo diferente. Não consegui conter o riso. Imediatamente, lembrei da @porracorpo, auto-intitulada mini travesti, que ficou famosa por seus vídeos publicados no Instagram, eles tinham uma narração nesse mesmo estilo (“puxa, zaga e teile”). É incrível como funciona.


Enquanto o pessoal ensaiava, dois policiais entraram na associação e ficaram um bom tempo observando o ambiente. Os professores e os alunos não ficaram nem um pouco intimidados. Seguiam com a dança. Enquanto fazia as filmagens, ouvi uma voz dizendo “me filma” e é claro que eu filmei. Era nítida a empolgação e o prazer daqueles jovens em saber que estavam sendo filmados. Algo tão simples, mas que para eles significava reconhecimento e oportunidade. Então, eles davam o melhor de si. Do lado de fora, os meninos eriçados continuavam a admirar a “vista”. No final da aula, enquanto Rhanderson e Caio estava em reunião com todos os participantes, conversamos com Graciele Santana, uma das alunas do grupo. A estudante de 16 anos alegou que sonha em ser dançarina de brega-funk. “Eu amo muito a dança. Meu pai fala muito, mas eu gosto e eu tenho que fazer o que eu quero, né”, explicou a jovem que recentemente fez parte do videoclipe do MC Joãozinho da Patrão e DLL, dois artistas pernambucanos. Além de Grazy, como é chamada pelos amigos, no ensaio havia pessoas vindas de Recife, Igarassu e Itapissuma.


Muitas meninas e meninos, assim como Graciele, começam com um sonho: se tornar dançarina. Com determinação e coragem, muitas vezes, enfrentam o preconceito da própria família para fazer o que gosta. As dificuldades sempre vão existir, mas, artistas como Dani Costa, a queridinha do brega-funk e atual bailarina do MC Tróia, são prova viva de que o sonho é possível. Hoje, ela é referência para muitos jovens de periferia que sonham com o reconhecimento das pessoas. “Ela dança muito. Dani Costa pra mim é a melhor”, explicou a Graciele. Dani fez parte da Império Swing por um bom tempo e, sempre que pode, visita os ensaios do grupo.


O melhor das aulas, além de aprender a dançar, é que elas são gratuitas. Os professores apenas aceitam qualquer valor simbólico como contribuição para ajudar na manutenção do grupo como, por exemplo, para comprar garrafões de água ou até camisetas com a marca da Império Swing, para os interessados. A única exigência é a seriedade e o comprometimento com os ensaios. Para participar das aulas, é só começar a frequentá-las todas as terças e quintas, para iniciantes, e, para nível avançado, as segundas e sábados. Não há limitação de vagas, mas elas são trancadas caso os professores percebam um excesso de gente nos locais de ensaio.


Império Swing

Criado em 2014, o projeto foi criado por Rhanderson Costa e seu amigo Elion, que faleceu em 2016. A ideia do nome veio da telenovela Império, exibida entre 2014 e 2015 pela Rede Globo, pelo sucesso que a novela fez na época. Por ser muito fã do antigo grupo de swingueira Novo Swing, em concordância com o amigo, Rhanderson batizou o grupo com a junção das palavras Império e Swing.


Assim que fundou o grupo, Rhanderson convidou o amigo Caio Alves para fazer parte da equipe organizadora. Hoje, como direção e coreógrafo, Caio participa de todos os ensaios com muita satisfação. “O surgimento da Império pra mim foi como se eu tivesse renascido de novo, entende? Porque quando a DPressão acabou foi uma perda muito grande pra mim, parecia que eu tinha perdido um ente querido”, desabafou Caio. DPressão era uma equipe de dança voltada para a swingueira. Foi através dele que Caio conheceu Dani Costa e Dan Lisboa, atualmente bailarino de Dadá Boladão e antes professor de swingueira do mesmo grupo.


Antes da internet, os grupos de dança se limitavam a periferia. Atraia meninos e meninas de várias idades e bairros diferentes. Infelizmente, alguns projetos não chegam a durar por muito tempo, seja por questões financeiras, de espaço ou outras particularidades. Outros grupos buscam formas de se manter firmes. A Império Swing, por exemplo, ganhou ainda mais visibilidade nas redes sociais quando o fundador do grupo viajou para a França e filmou várias performances de brega-funk nos pontos turísticos do país. Somado a isso, tem o fato de que bailarinas como Dani Costa, Vanessa Santos e Wanessa Loureiro nasceram dessa equipe.


Numa análise geral e conclusiva, percebi que grupos de dança como a Império Swing são mais do que uma “escola” de dança. Através das aulas, os jovens aprendem a ter disciplina, comprometimento e confiança. Lições que servem para a vida. Além disso, é também uma ocupação que pode inclusive livrar meninas e meninos da “vida errada”. Enfim, no geral, a arte de praticar aquilo que se ama é transformadora e pode gerar grandes talentos.

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Império Swing

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